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não exato.



algo sobre a inexatidão ;



Insônia

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Há dois dias, eu tive uma crise de insônia. Uma crise de insônia daquelas terríveis, avassaladoras, em que vi os minutos passarem lentamente e tudo começava a surgir: o dia, os pássaros, o sol. Menos o meu sono. Cansada e desejando apenas dormir, quando chegou a hora de finalmente descansar, tive medo. Medo de não dormir novamente e que isso me levasse a um ciclo interminável de cansaço. Como dormir foi mais difícil do que eu esperava, realmente comecei a ficar preocupada e achei que fosse algo crônico ou sem solução. Até que, num rompante, percebi que já tinham se passado muitas horas e que eu havia dormido. Não pude conter o alívio por isso e então as coisas correram normalmente, como correm quando você tem uma noite de sono normal. O porquê de eu estar contando isso? Porque isso se assemelha muito a nossa vida em geral.
Estamos vivendo, muito bem, obrigada, até que algo acontece e joga nossos planos de porcelana ao chão e faz com que eles se quebrem em mil pedaços. Irreparáveis e que, mesmo que consigamos colar, esses sonhos jamais serão exatamente o que eram. Estamos vivendo, sorrindo, sentindo e nos entregando, até que a vida nos dá uma rasteira. Estamos tendo fé, até que nos decepcionamos. E a partir disso, por puro e compreensível instinto de sobrevivência e reparação, ficamos em alerta. Passamos a enxergar o que não víamos e tomamos cuidado com o que não nos parecia perigoso.
Até aí, nada de errado. Precisamos mesmo de tempo para consertar e avaliar se vale a pena juntar os cacos tão espalhados ou se devemos limpar tudo e escolher novos sonhos. O tempo cura mesmo todas as feridas. Mas não leva as cicatrizes. E é aí que mora o problema. Tomados por tanta dor - e normalmente, com a lembrança de outros sonhos quebrados – olhamos para as cicatrizes como prova de que nos machucamos, ao invés de olhar como prova de que nos curamos. E aí enxergamos o que não víamos e enxergamos também o que ninguém mais vê, porque não existe. Entramos em alerta com o que não nos era perigoso e entramos em alerta também com tudo o mais e que não deveria ser atingido por tudo isso. E então passamos a acreditar que sonhos não nos parecem muito úteis ou então não deveriam ser feitos de porcelana, já que seus cacos podem nos ferir. E algumas das vezes, ferem mesmo.
Acreditando ser a solução, decidimos construir muros ao nosso redor, entrar em bolhas impermeáveis, jamais largar nossos escudos e armaduras de metal frio e resistente. Atentamos para tudo e desconfiamos igualmente. Mais do que desconfiar, não confiamos mais. Deixamos de acreditar ser possível e de achar que tudo pode ser melhor. Achamos que, dessa forma, as decepções encontrarão obstáculos e, então, procurarão quem as permita entrar. Que tolos esses desprotegidos, pensamos.
Mas na verdade, os tolos somos nós. Ao nos proteger tanto, nos fechamos pra nós mesmos e se a decepção não vem, a felicidade também não. Podemos nos poupar de toda a dor, todo o sofrimento e todas as coisas que se convertem em lágrimas, mas também nos poupamos de todas as graças e tudo o mais que se converte em sorrisos.
A verdade é que decepções existem para todos. Pra mim, pra você e pra quem mais você imaginar. Mas a felicidade também. E é justamente assim que a felicidade vem: pros que sofrem, pros que se machucam e que ainda assim acreditam nela. Podemos nos poupar da dor, mas, dessa forma, nos poupamos também do que tanto queremos.
A vida tem seus meandros, sua própria maneira de ensinar, de fazer enxergar e, principalmente, de fazer crescer e, sinto dizer, na maioria das vezes é pelo caminho da dor. E simplesmente não podemos nos poupar disso.
É verdade que é um tanto quanto injusto e que as coisas poderiam ser mais fáceis. E é injusto que não possamos ser quem desejamos ser e quem efetivamente somos porque precisamos nos proteger da dor. Sim, eu concordo, acho que cada um tem o direito e até mesmo a obrigação de ser quem desejar, ser quem quer que seja. Mas essa injustiça quem comete somos nós mesmos contra nós. Nós nos privamos, nós nos prendemos, nós nos asfixiamos.
Em algum momento, felizmente, iremos perceber isso e iremos derrubar nossos muros, estourar nossas bolhas, por de lado nossos escudos e armaduras tão imponentes. Mas quanto mais cedo permitirmos que esse tempo chegue até nós, mais felizes poderemos ser, porque, afinal, viver é como uma noite de sono e as decepções, como insônia. Não é porque uma noite de sono não dá certo que devemos deixar de dormir. Nós gostamos e, acima de tudo, nós precisamos. Insônia tem cura. E a dor também.

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(Re)começos

terça-feira, 28 de julho de 2009

Quantos impulsos eu já tive pra começar esse blog. Depois de tantos impulsos reprimidos, repensados e desistências que surgiram, aqui estou. Acho que o que me deteve foi mesmo o de sempre. O novo. O novo assusta, mas na verdade mesmo, acho que a questão é o começo. Porque, sim, mais do que toda a caminhada, tropeços e obstáculos, numa jornada o mais difícil é o primeiro passo. A gente nunca sabe o que vai encontrar pela frente, o que vai acontecer ou o que teremos ao final. Se seremos a mesma pessoa ou se teremos algo mais. Ou algo menos.
Nós até sabemos o que esperar, são nossas expectativas naturais antes de todo começo, mas não sabemos se elas vão se realizar ou se serão diferentes, para a melhor ou para a pior – nosso mais terrível medo, via de regra. E não saber assusta. O primeiro passo é nosso. É nossa decisão, nossa responsabilidade, assim como, provavelmente, a escolha do caminho. Mas o que virá pela frente é consequência. Consequência de uma escolha. E isso também assusta. A responsabilidade pelo caminho que escolhemos dá medo, mas as consquências que nem sempre podemos prever, também.
Eu sei que escolhi meu caminho ao querer e ao criar esse blog e sei que dei meu primeiro passo ao publicar o que aqui escrevo. O que vai vir disso? Eu não sei. Sinceramente, eu não sei e não consigo prever. Mas não há problema, o que importa é quebrar e romper a barreira do medo de ir em frente. Quanto ao blog, a vontade veio de mais um impulso de querer pensar e sentir sobre as coisas. O nome, Não exato, além de ser uma pseudo contradição por ser de alguém, como eu, que se dedica justamente às Exatas, surgiu, na verdade, de uma citação de One Tree Hill, uma das minhas séries preferidas e que foi escrita por Ayn Rand. O episódio trata, basicamente, de conflitos pessoais e de pessoas que tentam roubar seu talento de alguma maneira e não deveriam conseguir. Eis a citação:

“Não deixe seu fogo se apagar, faíscas por insubstituíveis faíscas, na troca perdida no não exato, do ainda não, do de jeito nenhum. Não deixe o herói na sua alma se extinguir, numa frustração pela vida que você mereceu e nunca pôde alcançá-la. O mundo que você deseja pode ser ganho. Ele existe, é real. Não asfixie. É possível. É seu.”

Mais do que só ajudar a dar o nome ao blog, acredito que esse trecho inspira e faz acreditar que nosso mundo é nosso e merece ser conquistado e vivido, ao invés de rejeitado como se não merecêssemos. Porque nós efetivamente merecemos. Mas precisamos dar o primeiro passo.
Quanto aos impulsos que me faziam pensar em escrever e eram seguidos logo após pela desistência, um deles foi mais forte - o de hoje. Qual era? Querer falar que merecemos viver como desejamos. Mas isso deixa pra próxima que, eu espero, esteja realmente próxima.

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